E eis que me dizem: “Ah e tal, o mundo vai acabar”. Eu cá para mim: “É isso, agora deixa-me comer a sopa”.
Todavia, tinha fundamento teórico aquilo que ele me havia dito. O mundo estava para acabar.
Como é normal e humano, por mais estúpido que possa parecer, começámos a preparar o nosso fim do mundo. Trabalhamos e sofremos até que chegou o dia da dita. Dia 11 de Novembro de 2012.
O fim de mundo começou com uma dança da chuva proporcionada pela nossa professora (veja-se o vídeo de promoção do FETA da nossa Atituna). Enquanto esperávamos a chuva lá fomos entre cantigas e cantorias até ao mui nobre Teatro Sá da Bandeira. Entre apalpões e assobios, lá fomos instalando o material, e por nós entenda-se o pessoal do pro bono, e lá ficamos a coçar os respectivos até ao nosso soundcheck. E pumba, microfone no bandolim e toca a andar, que a missa já vai no adro. Feita a cortesia, lá fomos javardar mais um pouco para o bar, onde havia sido proporcionado alto momento diabético com bolinhos e café daqueles das máquinas. Bandulho cheio, lá fomos nós jantar ao restaurante Império. Pessoal do pro bono nas etiquetas e toca a distribuir animal. Comemos e bebemos e já estava na hora de actuarmos. Rola o vídeo de maior sucesso nas ruelas de Bombaim. Seguem-se risos de vergonha empática (ver “Teses sobre problemas florestais e as complicações de nostalgia vista”) e abrem-se os panos. Lá actuamos para o pessoal e ele parece que curtiu, mas também estava um bocado escuro e não dava para os ver muito bem. Temos de ver para crer. Segue-se a festança. Tudo ao molho e fé em Deus, o pessoal do pro bono de conga às costas e toca lá conquistar meio mundo: amanhã vem outro dia. Fomos animando a malta e bebendo uns copos in the gufubað, e lá se ouviu dizer qualquer coisa de piromania mas era efémero e logo não se ouviu mais nada. Chegou a hora de cantarmos com as organizadoras do fim do mundo (e que felizes estamos por alguém organizar o fim do mundo) e tudo correu bem, entre choros e gritos. Entrega de prémios e lá vai o nosso Magister para tentar meter um bolso. Afinal não estávamos a concurso, mas sim para despoletar o acabar de tudo. Conseguimos um prémio de consolação. Posto isto, acabamos a noite em grande no bar do grande Teatro, até que surge um cântico só antes comparado ao poder do Requiem de Verdi que dizia o seguinte: “Por isso é que eu sou das ilhas de bruma, onde as gaivotas vão beijar a terra”. Isto bis não sei quantas dezenas de vezes, e pega aí a minha senha e traz-me um fino. Estavam a cinquenta cêntimos os labregos. Reunida a Tuna, lá se comemorou e cantou e beber e riu e brincou, e volta e meia já o sol queria raiar e todos nós dispersamos. Vamos lá conquistar outro meio mundo.